domingo, 22 de abril de 2012

Uma Viagem, Um Sonho


Paris, França. Um turista qualquer, em um café qualquer. Enquanto bebe seu café, lê, com a ajuda de um dicionário de Inglês-Francês um livro de poesias francesas de seu pai, Marcus, falecido há exatamente um ano. A viagem, uma homenagem, passa pelos mesmos lugares que  seu pai passara anos antes de seu nascimento. Com dificuldade, graças a um francês limitado, ele aprende do dicionário o suficiente para saborear as sutilezas contidas nas páginas do livro, que não é de nennhum autor famoso, é apenas um conjunto de poemas franceses dado ao seu pai por um amigo qualquer.
O café, longe de ser um local badalado de Paris, se mantém com certo movimento, de alguns turistas perdidos, mas principalmente de pessoas locais. O garçon, nada amigável, xenófobo, só quer que o alienígena termine e vá embora. Na calçada, dezenas de pessoas passam alheios ao leitor, e este continua sua árdua leitura, alheio às pessoas.
Mas é durante um pequena pausa, durante um gole no café, um tanto quanto convencional, que ele a vê. Com um vestido azul escuro, que se confunde com o ambiente. Mesmo assim ela lhe chama a atenção, nem ele sabe direito o porque. Ela vem andando a passos rápidos em sua direção e logo passará por ele, como todos os outros que vem e vão sem notar o estrangeiro. E assim acontece. Ela logo passa, e ele sente seu cheiro. Algo parecido com uma mistura de rosas envelhecidas e mato recém cortado. Um comichão em seu estômago, seus braços e pernas formigam, seus olhos chegam a revirar nas pálpebras pelo breve segundo em que fechou os olhos para melhor apreciar a essência. O cheiro mais inebriante que já sentira. Ele precisa fazer alguma coisa, fica inquieto, os segundos que passam parecem uma eternidade torturante. Só de imaginá-la se afastando sem pelo menos um contato, uma tentativa, uma aproximação lhe corroe as entranhas de um modo intenso, nunca antes sentido. Ele decide abordá-la.
Quando ela já está a meio quarteirão de distância, ele corre em sua direção e entra em sua frente de forma brusca, impensada e a assusta:
- Speak english?
Refeita do susto, ela acena que não com a cabeça e torna a caminhar, decidida, em passos rápidos. Ele a segue, e mais uma vez torna a entrar em seu caminho. Entra em desespero e tenta lembrar algo das aulas de francês que teve na época do colégio. Alguma lição de conversação básica, qualquer coisa. Ela olha para ele de forma desdenhosa, quase raivosa, mas vê algo diferente em seus olhos, diferente de um turista qualquer, uma insegurança, uma inocência que lhe desperta certa simpatia. De repente ele se lembra de algo:
- Je suis desolé, je ne parle pas français, mais vous êtes la plus belle fleur et parfumé que j’ais jamais vu.
Ele se sente ridículo, não sabe se conseguiu passar a mensagem direito, se condena, toma consciência de que é apenas mais um turista incomodando uma garota qualquer em qualquer rua de Paris.
Enquanto isso, o garçon, tendo notado sua ausência presume que ele é mais um desordeiro, provavelmente mais um Americano querendo contar vantagem aos seus amigos dizendo que fugiu sem pagar de um Café Francês. Ao localizá-lo, corre em sua direção e agarra-o pelo braço gritando e arrastando-o de volta para o café. Ele, derrotado, apenas se deixa levar. De volta ao café, senta-se novamente na mesa e tenta explicar ao garçon, que contrariado, o deixa permanecer no local. Ainda aturdido, ele penas olha para frente, o livro na mesa, aberto em uma página com um poema qualquer, que ocupa apenas meia página. No resto da folha, uma curta nota, escrita à caneta, dedica este poema à seu pai.
Ele está quase voltando ao normal quando sente o cheiro indistinguivelmente marcante uma vez mais. Ela se senta na cadeira à sua frente. Ele nada consegue falar, apenas olha para ela, incrédulo. Ela sorri, lhe diz que fala inglês, lhe chama de maluco. Seu nome é Maxinne. Ela olha para o livro na mesa, fala qualquer coisa sobre gostar de poesia, chama o garçon e pede um vinho. O garçon, com olhar de dasaprovação lhe atende o pedido.
A conversa agora flui de forma intensa, rápida. A cada palavra dita ambos se sentem mais leves, quase bêbados, talvez seja o vinho, não sabem ao certo. Quando percebem, horas se passaram e o café está para fechar. Pagam a conta. Ele se oferece para acompanhá-la até sua casa, quer ter certeza de que ela chegará bem. Ela aceita a oferta. A conversa segue descontraída, incessante, mas nenhum dos dois sabe ao certo sobre o que falam, nenhum dos dois consegue prestar atenção na conversa, apenas conversam, sem parar.
Quando chegam à frente de um prédio qualquer, igual a quase todos na rua, ela anuncia que chegaram, que é ali que ela mora. Ele, desejando que ainda fosse dia, que pudessem conversar mais, sabe que não conseguirá dormir a noite toda, sonhando em estar com ela, em viver ela, em apenas ser com ela e a pergunta se podem se encontrar no dia seguinte, seu último em Paris. Ela o convida para entrar. A noite segue seu rumo natural, como num sonho, a conexão entre os dois se torna densa, quase palpável, mágica.
O dia seguinte segue a mesma receita, único. Com ela como guia, vão aos lugares mais bonitos de Paris, lugares praticamente desconhecidos por turistas, reservados aos Parisienses. Jardins floridos, grama e copas de um verde tão intenso quanto o vermelho provocado nas nuvems pelo pôr do Sol. Um piquenique perfeito, no local perfeito, com a mulher perfeita. Mais um dia perfeito.
De repente são abordados por uma senhora. Uma cigana. Ela não fala inglês, então Maxinne se encarrega da tradução. A cigana pega a mão dele, lhe diz que seu nome é Marcus, ele sorri, sabe que não, mas não a desmente. A cigana fala que os dois estão destinados a ficarem juntos, que estava escrito nas estrelas que eles se encontrariam, que casariam e teriam três lindos filhos, que seriam felizes enquanto estivessem juntos. Ele apenas sorri, cúmplice, e ouve a velha senhora de forma afetuosa. Bem no fundo, uma tristeza o assola, ele sabe que isso não acontecerá, ele sabe que terá de voltar. Ela também sabe disso. Deseja diferente, deseja a eternidade ao lado dele, sem nunca ter-lhe perguntado o nome. A cigana vai embora. O dia também. Um clima de tristeza e melancolia toma o ambiente, a nostalgia do presente de poucas horas atrás chega a ser insuportável. O momento que ambos evitavam pensar chegara. Eles se olham, tristes em ter de se separar, mas felizes por terem vivido um ao outro. Sabem que nunca mais se verão, mas que sempre estarão juntos, ligados por um verdadeiro amor, de dois dias, separados por um mundo, porém juntos pela memória e pela magia. Um amor impossível porém realizado, efêmero porém eterno. Ele sempre terá sua Maxinne, e ela sempre terá seu Marcus.

Um comentário:

  1. Tatu, você ia gostar de um filme que se chama Before Sunrise...já viu? É de dois estranhos que se conhecem num trem que vai de Budapest pra Viena. Depois tem a continuação, o Before Sunset, que se passa justamente em Paris :)
    Parabéns pelo blog. Vou acompanhar sempre. Beijo, Nana =*

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