domingo, 22 de abril de 2012

Gladiadores


Rolando na grama, ele parece não se importar. Na verdade parece delicioso. Penso em me juntar a ele, mas não quero perder minha compostura.
O Sol vai alto no céu, castigando todos que ousam desafiá-lo. Nenhuma nuvem à vista, sinal de que o jogo vai ser exaustivo. O ar, quente e parado, me fazem perceber que esse não é o dia ideal para o que está prestes a acontecer.
Ele se levanta e corre em minha direção, fico ansioso pois ele se aproxima cada vez mais rápido.
Quanto mais perto, maior a tensão, me imagino caindo de costas no chão, me lembro de outras ocasiões em que isso ocorreu, não foram muito agradáveis.
Me agacho, esperando o pior, a adrenalina aumentando em minha circulação. Mas ele se desvia no último segundo, demonstrando uma habilidade que eu já não possuo há alguns anos.
Sou jovem ainda, me parece ridículo dizer: "quando eu tinha 19 anos...". Mas infelizmente essa é a pura verdade, se não me alongo antes de cortar cebolas hoje em dia, fico moído, destruído, inútil, por um bom tempo.
Mas nunca desisto, afinal, uma vez viciado em endorfina e adrenalina, é difícil largar o jogo. Conhecendo seu próprio corpo e suas limitações, pode-se fazer quase qualquer coisa. Inclusive desafiá-lo. Há sempre uma chance.
Mas a idade pesa, ele é inalcançável, por isso preciso recorrer à experiência, à malandragem. Tomo as rédeas da brincadeira, coloco o jogo em um terreno estratégico, conhecido, cheio de obstáculos, onde minhas desvantagens diminuem, aumentando minhas chances de vitória.
A batalha fica mais acirrada, ele parece não perceber as mudanças. Ledo engano, ele também é inteligente, se adapta às novas condições e, rapidamente, está em vantagem de novo.
Agora meu tornozelo começa a demonstrar sinais de fraquezas, acumuladas durante uma vida toda. Cada vez mais cansado, percebo que o jogo está próximo do fim. Ele segue incansável, persistente, quase insensível, desrespeitoso, sem levar em consideração as condições de seu oponente.
Finalmente, em um momento de distração, ele tira proveito de sua agilidade e me leva ao chão. Exausto, decido que está na hora de terminar o jogo.
Um jogo no qual não há perdedores, só ganhadores.
Neste momento, meu corpo inteiro está coçando, maldita seja a verde e sagrada grama. Declaro o fim do jogo, aviso meu oponente que tudo acabou, que está na hora de voltar para casa. Ele me olha desapontado, pensa em resistir, ele quer mais, poderia fazer isso por muito mais tempo.
Mas eu sou o mais velho, eu sou o mais experiente, eu decido quando o jogo começa e quando o jogo termina, essa parece ser minha única vantagem.
Inconformado, ele é obrigado a acatar minha decisão, sendo assim, coloco a coleira de volta no Chorão e vamos para casa. Eu preciso de um banho, e ele de muita água.

Nenhum comentário:

Postar um comentário