quarta-feira, 13 de março de 2013

Palavras

Em rimas desconexas e versos sem fim.
Palavras perdem o sentido ao sair de mim.
Eu, que não penso o que sinto,
Mas que sinto o que penso.
Eu, que não escrevo o que leio,
Nem leio o que escrevo.

Ainda assim, lá se vão elas.
Independentes, inseguras, coesas.
Pequenas e estranhas criaturas,
Expostas em um circo de horrores.
Na sequência designada,
Na hora certa, na errada.

E o que dizem estas palavras?
O que sabem estas palavras?
Sentem, as palavras, o que sentimos ao pronunciá-las?
Pensam, as palavras, no peso que é enunciá-las?

Não.

Como podem então as palavras
Traduzirem o que sinto e o que penso?
Como pode a fala misturar mente e corpo,
Sem nos tornar a todos loucos?

Palavras são conexão, criação e reflexão.
São ligação, ordenação e coração.
Palavras não são o que são,
Mas transmitem a noção do que pretendem ser.

Palavras não traduzem, codificam.
E quem mais tem meu código além de mim?
E que códigos tenho, eu além do meu?
Que pode então alguém dizer de mim,
Quando nada posso dizer do outro?

Nada.

E mesmo assim palavras são escritas.
São jogadas, são lidas, dadas, recicladas, faladas.
E o que deveriam ser se perde no ar,
E o que pretendiam ser não mais o são.
São ainda para mim. Ou não. Não mais.
Quando saem de mim, as palavras já não são mais minhas...

2 comentários:

  1. “É daí, eu acho, que veio a linguagem.

    Quero dizer, veio do nosso desejo de transcender o nosso isolamento... e de estabelecer ligações uns com os outros.

    Devia ser fácil quando era só uma questão de mera sobrevivência. "Água". Criamos um som para isso. "Tigre atrás de você!" Criamos um som para isso.

    Mas fica realmente interessante, eu acho... quando usamos esse mesmo sistema de símbolos... para comunicar tudo de abstrato e intangível que vivenciamos.

    O que é "frustração"? Ou o que é "raiva" ou "amor"?

    Quando eu digo "amor"... o som sai da minha boca e atinge o ouvido de outra pessoa... viaja através de um canal labiríntico em seu cérebro... através das memórias de amor ou de falta de amor.

    O outro diz que compreende, mas como sei disso? As palavras são inertes. São apenas símbolos. Estão mortas. Sabe? E tanto da nossa experiência é intangível.

    E, ainda assim, quando nos comunicamos uns com os outros... e sentimos ter feito uma ligação, e termos sido compreendidos... acho que temos uma sensação quase como uma comunhão espiritual.

    Essa sensação pode ser transitória,mas é para isso que vivemos.” (Waking Life)

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  2. E se eu tivesse te dito que não? E se eu tivesse te dito que sim? E se eu não tivesse te dito nada? Essas palavras insistem em querer ser mais do que podem ser. Querem dizer o que eu sinto, mas jamais serão o que eu sinto, limitando-se a ser o efêmero de uma simples tentativa de ser. Eu, pra falar a verdade, tenho pena das palavras. Porque querem tanto ser, e jamais serão... Querer tanto ser, sem jamais poder ser. Ir para vir, dar para ter, entrar para sair. Essa palavra tem como condição jamais ser. A palavra não pode, porque não é. E não adianta esperar dela mais do que isso. Eu queria te dizer mais e queria que as minhas palavras fossem mais do que são. E queria mais ainda que suas palavras fossem mais do que são. Ou, pelo menos, que me dissessem mais do que dizem. Mas não dizem. Me encaram, somente. Com um pouco de deboche, acho, porque sabem que eu não posso fazer nada. Porque elas estão ali independentemente de eu querer ou poder fazer qualquer coisa com relação a elas. E porque apesar de elas serem apenas meras palavras, que quando muito podem somente dizer, mas jamais ser, elas são tantas... E tanto. E significam tanto. E machucam e criam e destroem tanto. E constatam tanta coisa que eu nem sabia que existia. E tocam tanta coisa que, até onde eu sabia, não podia ser tocada. E viajam em mim - me acordam à noite para lembrar que é hora de acordar, porque ninguém pode dormir assim tão bem. E insistem em me dizer e relembrar e reviver aquele dia interminável, cheio de palavras, a maioria nunca dita. E insistem em ficar em mim, juntas àquelas outras tantas que já fizeram uma tatuagem na minha pele e na minha existência diante da estadia longa. Mas não quero que fiquem comigo. Leva com você, por favor. Leva de volta, porque não aceito. Se quiser, pode escolher outras para me dizer, mas essas eu realmente não quero. Não aceito. É muito deboche, é muita folga... Já viu isso? Palavra folgada? Um texto, folgado? Que se apresenta e no finalzinho dá uma risada longa de você? Porque não acredita que você vai ter que ler um texto tão simples outra vez para ver se entendeu... Ora, não é possível. Mais uma vez? Mais uma vez, eu tenho que ler de novo para ver se eu entendi mesmo. E ele continua rindo, para me avisar no meio do texto que por mais que eu leia ele uma porção de vezes, ele vai continuar sendo o mesmo. Ele não vai mudar, porque ele não pode mudar. Ele só pode ser isso, e é só isso que ele vai oferecer. Pode tentar ler, pode querer ler, pode querer outro texto... Mas é só esse que ele pode ser. Então pode levar ele, porque esse eu não quero.

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