segunda-feira, 18 de março de 2019

O ser

Ando com dificuldade para sair.
Ando preocupado em me servir.
Preciso ser eu, mas eu, não consigo.
Pois se eu fosse eu, o seria comigo.

Já não busco então, pelo sentido.
Já não me apego mais à vontade de ser ouvido.
E sigo vivo, sigo eu, partido.
Sinto, ouço e partilho, comigo.

Não sei mais o que querer.
Não sou mais quem deveria ser.
Não sei mais como fazer.
Não sou mais do que o arder.

O confronto eu evito.
No conflito me faço aflito.
Então não escrevo meu escrito.
Então não vivo o meu dito.

Sou muito, e muito pouco.
Sou tanto, sou só espanto.
Sou nada mais, e nada menos.
Sou apenas, incerto, deserto.

E sigo só pois é o que me convêm.
E sigo apenas, na inércia do desdém.
E desdenho do tempo, eterno e escasso.
E me vejo, evidenciando o embaraço.

Mas no momento é o que faço.
Ser no agora o que eu tenho.
Ser tão pouco, e talvez menos.
Mas agora é o que sou.
Sou, aos gigantes, apenas mais um dos pequenos.