domingo, 22 de abril de 2012

Um Bar, Um Dilema


Tudo vai bem, na mesa o que se nota é a alegria da pura descontração.
Uma porção de risadas aqui, uma travessa de piadas de mal gosto ali. Tudo vai bem.
O mundo, por um momento parece perfeito, resumido à mesa onde, de vez em quando, um ser abençoado aparece trazendo mais uma garrafa de risos ou algumas doses de gargalhadas. Tudo vai bem.
De repente, o mundo se torna um pouco maior.
Um olhar cruzado.
De repente as risadas soam forçadas, as risos se tornam apenas risos. A atenção já não mais se concentra no futebol, que rola solto na mesa, mas sim naqueles olhos, que agora olham para outra direção qualquer.
Introspectivo, sorridente, perturbado.
O copo vai aos lábios mais uma vez, servindo alegria e conforto, e logo tudo vai bem. Aqueles olhos não mais sombreiam a mente. Tudo está perfeito de novo.
Até que os olhares se encontram mais uma vez. E mais uma vez o mundo desaba, tudo se torna nada e nada vai bem.
Será coincidência? Será que se engana, se pune por beber do Universo?
Anseios e inseguranças agora poluem a mente, já afetada pela existência. Revolta. Essa sociedade machista...Por que o homem que deve tomar ação? Homem ou homem? A existência, o ser, o estar, quase o derrubam de sua cadeira. O que fazer agora?
Melhor não fazer nada, melhor fingir que não aconteceu nada. Melhor nada, mas nada é feito. O jeito é tentar esquecer que aconteceu, afinal, até esse ponto o que realmente aconteceu? Nada.
A atenção volta para a mesa, onde ele reina entre reis, acompanhado, absoluto, só. Onde ele não se questiona, não se avalia, não se mede, não é melhor e nem pior que fulano ou cicrano em sua zona de conforto, seguro, patético.
A ressaca moral, a memória da derrota, da covardia, o destroem por dentro tanto quanto a cachaça barata, que deixa resíduos que permanecerão em seu sistema por um bom tempo.
O que deu errado dessa vez? Em outras ocasiões, a ponte foi erguida com tanta facilidade...Por que agora então a dificuldade?
Consciente do processo inteiro, a mente se entrega, exausta, à saída mais simples no momento, uma porta que nunca está trancada, que mal fica fechada.
Ao atravessar o batente, acorda em sua mesa, onde tudo vai bem...

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