domingo, 22 de abril de 2012

Prisão Perpétua, Liberdade Garantida


E dentro de mim acordo preso.
À minha volta nada escuto.
Berro, grito, mas não me ouço.
Vejo apenas quatro paredes, um chão e um teto com um buraco.
Não me enxergo.
Será que existo mesmo?
Serei eu apenas fruto da minha imaginação?
Sinto que estou aqui por uma vida inteira, pois não me recordo de tempos de liberdade.
Não há mais ninguém, não há mais nada.
Não vejo saída.
Não há saída.
Passam-se luas e mais luas pelo buraco no teto de meu cativeiro, pelo buraco em mim.
Acompanho sua luz, dançando sempre a mesma valsa, vagarosa, de um lado ao outro no chão.
Iluminado por sua frieza, por sua indiferença, me dou conta de que se a lua está lá fora, então existe um lá fora.
Me animo com a ideia da tão famigerada liberdade.
Minha esperança quase chega a tocar a face da lua, que nem sabe que existo.
Tento em vão alcançar a janela de meu cativeiro, que nada mais é do que um quadrado no teto onde não há nada, apenas um buraco.
Rio de mim mesmo e da ideia de que minhas esperanças se apoiam totalmente no nada, na ausência de algo.
Porém, a parede é lisa demais, não consigo escalá-la.
Minhas pernas, exaustas, nem descansadas conseguiriam me impulsionar o suficiente.
Apenas relo o teto com a ponta dos meus dedos.
Sinto como ele é áspero e frio.
Ás vezes acho que consigo sentir seu contentamento com minhas tentativas vãs de alcançá-lo.
E assim, exausto, derrotado, vejo minha esperança minguar e murchar até se tornar tão pequena quanto a menor partícula do Universo.
Partícula que não vejo, mal sinto, mas sei que está lá, passeando pelo chão, de mãos dadas com a luz da lua.
E eu, permaneço ali, preso dentro de mim, olhando para o nada, para o buraco no teto.
À espera de um olhar, de um toque, um sussurro, um beijo.
Algo que me liberte, ou que ao menos me dê vida, até que adormeço, esperando ao menos sonhar com dias melhores.
E preso acordo uma vez mais.
As mesmas paredes.
O mesmo chão.
O mesmo teto.
O mesmo buraco.
Porém é dia, a luz do Sol me banha a pele, afastando o frio e a tristeza, que outrora me consumiam.
Com o Sol, novas cores ganham vida.
Chego a perceber nuances nas paredes cinzas.
Pelo buraco, enxergo, com esperança renovada, o azul do céu e o branco esfumaçado das nuvens.
O clima fica mais leve.
) ar fica mais leve.
Eu fico mais leve.
Ao contrário de Ícaro, o Sol parece me acolher e me dar asas.
E cada vez mais leve, pareço flutuar.
E quando me dou conta, passei pelo buraco!
Escapei de meu cativeiro!
Estou livre de mim mesmo!
E livre voo, como um falcão, sentindo o ar passando pelo meu corpo, eriçando cada pelo, cada pena, cada canto de mim.
A brisa leve, me acaricia o rosto como uma sereia, sentada na beira de um lago.
Lago no qual mergulho de cabeça sem receios, sem anseios.
Cercado por completo pela água morna, banhado apenas pela lembrança do útero, me deixo ficar por um tempo.
Mas não muito tempo, pois ainda há mais o que fazer, há mais o que viver, há mais o que ser.
E assim saio do lago.
E renovado, faço, vivo, sou.
Mas não para sempre.
O Sol já já se pôs e logo, um torpor toma conta de mim.
Adormeço.
E acordo de volta à minha cela, onde me sinto seguro, onde sou tudo, onde não sou ninguém.
E assim sigo, alternando o quente e o frio, o alegre e o triste, em uma vida simples, tranquila, porém complicada e turbulenta, uma vida, enfim, plena.

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