quinta-feira, 27 de abril de 2017

Ah, se eu pudesse!

Valores, números, sempre errados.
Tratamentos escusos de seres reclusos.
Relações desiguais, forjadas no interesse, nada mais.
Negociatas de milhões, confiscando quinhões, ignorando emoções.

E quem sente é fraco, na mesa de almoço é o mais cobiçado prato.
E o sofrimento é mascado, é saboreado, e cuspido.
E o mínimo, despido, é desconsiderado.
Ou se tem muito, ou se é comprado.

O que se valoriza é a mercadoria, mas apenas se ela for fria.
Se tiver sangue, e quente, é tratada como gente.
E gente, bem se sabe, tem tanta que nem cabe.
Não está no pensamento, e claro, não cabe no orçamento.

Sangue, só se for o frio, o azul, o vazio.
Aí sim é apreciado, tal qual iguaria no mercado.
Ou se nasce com ele, ou se compra, se puder.
Se não puder, azar o seu, alguém tem de construir o coliseu.

Mas logo isso passa, se esquece.
Ah, se eu pudesse!
Mas só pode quem tem.
E eu, bem, eu não tenho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário