sexta-feira, 5 de julho de 2013

Criado a Leite e Toddynho

E no fundo do copo, procuro encontrar um relance que seja de mim próprio.
Goles com brio e orgulho, me revelam nada mais que um vazio lamurio.
O êxtase, momentâneo, me ludibria, e me engana com um quê de alegria.
Do topo ao fundo, do fundo ao topo. O líquido vem e se vai de novo.
O copo vazio me remete à uma sensação amarga de esgoto.
Esgotado da Vida, ou da falta dela
A tudo anseio, porém nada tenho.
Anseio não para mim, mas anseio mesmo assim.
E aos poucos, desiludido, me abstenho, exaurido.
Vida cheia, ocupada, vazia de alma, repleta de nada.
A alma não mais persiste, o ser humano em mim desiste.
Bebendo ou não, a inquietude não se acalma, se agrava, ganha alma.
Triste, feliz, feliz, triste.
O movimento que prevalece é o do copo, em riste, triste.
Copo cheio é alegria, é fantasia, nostalgia, felicidade vazia.
Copo vazio é carência, é ausência, dependência, insuficiência.
Mas o copo não faz. O copo não vive. O copo não é.
E mesmo assim, por vezes me detém sob seu poder.
O copo, é alheio a emoção, ação, sensação.
O copo em si não considera o coração, a realidade, a ilusão.
Nos transporta para vários estados de inocência, consciência, inconsequência.
Por vezes, a consciência plena chega a me prender.
E me cega, enquanto o copo vazio me renega o que quero ver, sentir, ter.
Uma ilusão serena, conturbada, tranquila, errada.
Serena? Nada. A realidade me fatia feito navalha afiada.
Artérias se rompem e corações se partem.
Assim, o sangue é jorrado, simbólico, real, errado.
Para poucos, nada representa. A minoria se aliena e se alimenta.
Se alimenta da carne dos desgraçados, despedaçados, invalidados.
Que por sua vez se alimentam dos cacos dos copos, quebrados.
Mas a minoria nada vê, atrás de suas portas de "vidros fumê", sua atitude refinada, blasé.
Enquanto do outro lado, o sangue continua a a verter.
Escorre e se subverte. E nada se inverte. Tudo permanece estático, inerte.
E eu, que sai do meu berço de ouro, nascido e criado no Olimpo, como a maçã do pecado sem remorso.
Até agora, quando descubro pela perda da inocência que o ouro foi cunhado por desconhecidos.
Pessoas sem vozes, oprimidos por nós, seus fiéis e gentis algozes.
Reprimidas pelos latidos dos cães ferrenhos a serviço da ordem dos temidos, abafando lamuriosos gemidos.
Contendo os gritos sofridos, sufocando os próprios amigos, preocupados com os próprios umbigos.
Simpatizante dos menos favorecidos, serei como muitos reprimido.
Mas mártir não serei, pois não morri por justa causa ou causa alguma.
A morte não glorifica, quando se vai nada fica. Mas a Vida, essa sim, modifica.
Sempre carregarei o peso de ter nascido na luxúria, na riqueza, na usura.
Mas não sou culpado e nem serei julgado. Meu dever é usar isso em prol do massacrado.

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