quinta-feira, 11 de julho de 2013

Hoje em Dia

Hoje em dia, a felicidade nos é vendida. No bar, na farmácia, no supermercado, no shopping, na TV.
E ela é cara. Mas nos convencem a acreditar que ela é real, necessária. Nos ditam o que é o "bem estar", padrões inatingíveis para a grande maioria. Abominando o diferente, o não rentável. Glorificam sucesso sem esforço de poucos, e nos forçam a nos esforçar para manter o sistema funcionando para eles.

Não existem drogas que tragam a razão à luz. Aliás, a razão é a causa de tudo. Por causa dela penso em tudo e me preocupo com tudo. Mas não sei como começar a resolver nada. Ainda assim a tormenta do mundo me assombra. O mundo me esmaga, com sua devastadora realidade, escura, fria, fétida e incessante. Para onde estamos indo? Como contornar isso? Será possível? Será um simples choque de geração entre tudo e entre todos?

A alienação particular nada mais faz do que enlouquecer, angustiar e afastar-nos uns dos outros e eventualmente de nós mesmo. O isolamento não traz respostas. Não traz o conforto do calor do contato animal, da pele contra a pele, de um abraço sincero, do um amor irrestrito e incondicional, despido de preconceitos e julgamentos. Ou um beijo que desconcerta, e nos faz abandonar toda e qualquer razão existente, e que, em instantes destrói e cria um universo inteiro.

Enquanto isso, a natureza espera ansiosamente a volta do "filho pródigo". Na esperança de um filho desperto para o certo. A natureza espera a volta do filho pródigo que esteja de acordo com tudo e com todos. Com todos, com tudo, significa com ninguém, e principalmente com o nada, criador de tudo. Só assim a harmonia natural pode favorecer a todos nós, seres vivos, pensantes ou não.

Que raios de patologia crônica, nós humanos, adquirimos. Pegamos tudo o que é magnífico, e simplificamos em um artigo ininteligível? Pra vender, pra mostrar, pra ter, para pensar em saber..... Nesse cenário, me finjo de morto, jogo o jogo, sem nem perceber. Bolo planos maravilhosos que nada têm a dar errado, e no entanto, na hora "h", me saboto e ponho tudo a perder. E quando me dou conta, sou mais um a corroborar, sem reparar, na leve brisa a sussurrar.

O que me faz ser diferente e ainda assim me juntar debilmente, impotente à horda de zumbis? Comodidade? Preguiça? Medo? Medo do que? De perder a minha vida? Que vida? Que vida tenho eu a perder além da conformidade, da industrialização desenfreada, da respiração sufocada? Sentido não há! Sentido. Direção. Estática. Reprimida. Oprimida. Oprimida por quem, se sou eu a sociedade? Sentido! Errático! Lunático! Desenfreado!

Cada vez mais nossa "liberdade" se expande. Mas para onde? Para que? Para podermos de ter mais televisões de tela plana? Para podermos trocar nossas vidas por casas, carros, comida?...Radicais aqueles que obstruem a nação trabalhadora, pois estes demandam aumento de salário! Que absurdo...daqui a pouco os "favelados" vão querer o direito de usar bolsas Louis Vuitton originais e usar perfumes Carolina Herera.

O engraçado é que, apesar de tudo, os mundos começam a se aproximar, a mudar. Apesar de ainda da existir um enorme abismo entre classes. Val Marchiori que o diga. Acho que ninguém é rica como ela por aqui, mas já tem diarista andando por aí com LUÍS VITÃO, à imagem e semelhança de "Deus".
E as pessoas estão começando a entender. Como se perde algo que nunca se teve? O que é esse medo de viver a vida que se quer? O que é esse medo de não viver a vida que os outros esperam? O que me espera depois? Existirá um depois? Para que? Para quem?

A inércia e a imobilidade perante a luta e o esforço do ser mas do não estar, me mantém estático, paralisado. Preciso das minhas convicções, dos meus idealismos, utopias e anarquias. Mas para que? Conversar no bar? Perder noites de sono porque minha cama é quente e confortável? Estaria eu realmente disposto abrir mão disso tudo pela igualidade? Do viver mas não vivenciar? Sim? Não? Talvez?

Irei eu, no auge da cultura e educação que me foi dada, me tornar nada além do que mais um nada? Um ser inerte, incapaz de expressar minhas vontades, de suprir minhas necessidades? Fodam-se os anjos e fodam-se os demônios. Eu que me foda. Eu anjo. Eu demônio. Eu nada. Eu partícula. Eu poeira. Eu. Insignificante. Tudo à minha volta parece ter por objetivo uma única coisa, me roubar a vontade ser, estar e viver. O mundo clama a minha Vida para si, assim como a morte clama a vida da rosa mais bonita, assim como a da mais murcha. A Morte, porém, não tem critério nem justificativa, preconceito ou julgamento, é justa, cega, inevitável.

Os que seguem em frente, sabidos do mundo, seguem em frente. Sem receio do que se vê adiante. Um objetivo cumprido significa adquirir outro objetivo, ao qual se prendem para seguirem em frente.
Mas seguir em frente para onde? Conquistar objetivos para quem? Qual o real propósito desses objetivos? De quem são os objetivos? Meus? Seus? Nossos? Por que o foco em um futuro incerto, distante, hipnotizante? Será para esquecermos do presente? Abdicar da Vida no agora para, talvez, quem sabe, um dia, desfrutar de uma opulência desnecessária, quando formos velhos demais para trocarmos nossas próprias fraldas?

Não sei. Mas sei que, a minha Vida vou tentar viver de verdade, com riscos e sem vaidade. Viver a minha Vida pode até ser fácil. Para mim. Com meus privilégios involuntários, a receita seria até simples. Mas e os demais? Não conseguiria conviver comigo mesmo vivendo minha Vida enquanto muitos não tem essa oportunidade. Será? No final, acho que tudo se resume a uma coisa. Uma única batalha dentro de cada um de nós. A única batalha que realmente pode mudar tudo, para melhor ou para pior. E que ninguém além de nós mesmos pode lutar. A batalha entre o nosso ego e a nossa humanidade.

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