Ando procurando um lugar para guardar meu
coração. Com o peito pesado é difícil tomar alguma decisão. A cabeça fica a
mil, a concentração quase inexiste. Em casa ou em exílio, por vezes me isolo comunicativo,
me escondo pensativo atrás da extroversão. Eu poderia deixá-lo a pulsar, enterrado
ao pé de alguma árvore, ou então seguro dentro de um cofre. Mas acabaria por
perder o local ou me esquecer do segredo. Quando me concentro no mundo à minha
volta, meu coração ora fica esquecido, tendo seu peso anulado, ora compõe a
paisagem com perfeição, tal qual uma baleia no oceano. Uma caixa de sapato
no armário talvez resolvesse, mas ainda sim seu compasso me marcaria. Leve ou
pesado, meu coração ocupa minhas mãos, furtando-me da agilidade habitual e tornando-me
estabanado, como um gato sem o rabo. Quem sabe se eu o escondesse num samba
animado, conseguiria pensar livremente. Mas poderia acabar me encontrando
perdido em uma doce batida, eterna e sedutora. Sem resposta, sigo levando a
vida como posso. Diante das bifurcações que se apresentam no caminho, tento escolher
a opção que me levará por cenários mais alegres. Com passos decididos e
incertos desbravo a estrada devagar. Atento à paisagem, sigo me juntando aos
loucos, pois a única certeza que tenho é a de que, normal, não quero ser.
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